"Abrasada em grande amor de Deus"

“Providencialmente, a data da convocatória coincidiu com aquela em que o Bispo assinou a aprovação – 27 de Agosto, dia da Transverberação de Santa Teresa.”
Sim , o dia 27 de Agosto tem mais um motivo para o recordarmos em acção de graças. Neste dia, no ano de 1571, a nossa mestra  Teresa de Jesus deparou-se com uma das maiores graças que um homem pode receber de Deus – Transverberação( o coração da pessoa escolhida por Deus é trespassado por uma flecha misteriosa ou experimentado como um dardo que ao penetrar deixa atrás de si uma ferida de amor que queima enquanto a alma é elevada aos níveis mais altos da comtemplação do amor e da dor )- Muitos a receberam. Santos, e Teresa foi uma contemplada.
O episódio é bastante conhecido, também definido como “Êxtase de Santa Teresa de Jesus”  pelo facto de Teresa ter entrado num estado de êxtase.
A santa descreve o facto no Livro da Vida:« Via um anjo ao pé de mim, para o lado esquerdo, em forma corporal, se o que não costumo ver senão por maravilha. Ainda que muitas vezes se me representam anjos, é sem os ver, senão como na visão passada, que disse antes. Nesta visão quis o Senhor que o visse assim: não era grande mas pequeno, formoso em extremo, o rosto tão incendido, que parecia dos anjos mais sublimes que parecem todos se abrasam. Devem ser os que chamam Querubins, que os nomes não mos dizem, mas bem vejo que no Céu há tanta diferença duns anjos a outros e destes outros a outros, que não o saberia dizer. Via-lhe nas mãos um dardo de oiro comprido e, no fim da ponta de ferro, me parecia que tinha um pouco de fogo. Parecia-me meter-me este pelo coração algumas vezes e que me chegava às entranhas. Ao tirá-lo, dir-se-ia que as levava consigo, e me deixava toda abrasada em grande amor de Deus. Era tão intensa a dor, que me fazia dar aqueles queixumes e tão excessiva a suavidade que me causava esta grandíssima dor, que não se pode desejar que se tire, nem a alma se contenta com menos de que com Deus. Não é dor corporal mas espiritual, embora o corpo não deixa de ter a sua parte, e até muita. É um requebro tão suave que têm entre si a alma e Deus, que suplico à Sua bondade o dê a gostar a quem pensar que minto ». (Livro da Vida, cap. 29-13)

Deste acontecimento surgiram ao longo dos séculos várias obras de arte. E até a própria protagonista deixou obras de arte, como este poema…


Dilectus meus mihi

Toda me entreguei, sem fim,
e de tal sorte hei trocado,
que é meu Amado para mim,
e eu sou para meu Amado.

Quando o doce Caçador
me atirou, fiquei rendida,
entre os braços do amor
ficou minha alma caída.
E ganhando nova vida,
de tal maneira hei trocado,
que é meu Amado para mim,
e eu sou para meu Amado.

Atirou-me com uma seta
envenenada de amor,
e minha alma ficou feita
una com seu Criador.
Eu já não quero outro amor,
que a meu Deus me hei entregado,
meu Amado é para mim,
e eu sou para meu Amado.
Graças a este episódio, existe uma história bastante curiosa sobre o coração de Santa Teresa. Mas essa contamo-vos depois...fiquem atentos!

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